ROCK IN RIO: FAVELA PRA QUEM?

fonte: oglobo.globo.com

Casinhas coloridas uma sobre a outra, caixas d'água, fiações de luz, quadra de basquete e futebol, gatos, cachorros e bonecos em cima de lajes. Você não está na comunidade, é tudo mentirinha, esses foram os símbolos que o Rock in Rio escolheu para a montagem do Espaço Favela e para entrar foi preciso pagar mais de R$500 por um ingresso. 

O foco do festival com este palco era dar visibilidade à arte que é feita nas favelas, retratando a pluralidade cultural do Rio de Janeiro. Mas quando falamos de um evento como o Rock in Rio, por mais que sejam milhares de pessoas, ainda é um evento elitizado, no qual os ingressos não são acessíveis a grande parte da população, principalmente para quem mora nas comunidades. 

fonte: arquivo pessoal 
A abertura do espaço começou normalizando as operações policiais que aterrorizam centenas de pessoas. A estudante de psicologia Maiara Praça, de 21 anos, achou o espaço interessante em quesito musical, mas se incomodou com a encenação do barulho de um helicóptero sobrevoando a favela cenográfica do festival. “O barulho do helicóptero me deu agonia, porque quando eles passam, geralmente tem confronto, a comunidade para, as crianças não tem aula, foi muito estranho”. 



fonte: arquivo pessoal
Nas redes sociais existem diferentes ideias sobre o que foi o espaço favela, muitos dizem que esse palco só existe para glamorizar a favela e tirar o foco do que realmente acontece lá dentro, e outros que é melhor ocupar espaços, apresentar seu trabalho e conquistar o público para assim conseguir a visibilidade correta. A estudante de enfermagem Gabriela Alves, de 22 anos, diz que é importante mostrar a diversidade de talentos do morro em qualquer lugar. “O espaço favela do Rock in Rio abriu muitas portas para artistas da comunidade que não tinham oportunidade de mostrar seu trabalho, mas conseguiram ampliar seu público nesse evento”. 

O palco favela fez barulho assim que anunciado, meses antes do evento o rapper Djonga já cantava na música Ladrão, “O mais perto que ces chegarem do morro é no palco favela do Rock in Rio”. Montar um espaço que representa a realidade de uma população como atração para que outras pessoas, da qual a realidade social é totalmente diferente, torna a vida de muitos um entretenimento para poucos. Por mais que a intenção seja mostrar a cultura de um ambiente para aqueles que nunca tiveram acesso, ao delimitar que essa cultura só poderá entrar no festival depois de criar um espaço especial para ela, a divisão é clara, um artista de comunidade só pode ser visto assim, como um artista de favela em um ambiente que recria sua realidade.

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