Lançado mundialmente no último dia 03 de outubro, o filme “Coringa”, ganhador do Leão de Ouro, principal prêmio do Festival de Veneza, do diretor Todd Phillips, estrelado por Joaquin Phoenix, ultrapassa o marco de 250 milhões de dólares de bilheteria, acumulando um quarto de bilhão em apenas 18 dias em cartaz.
Apesar de ser um dos candidatos favoritos ao Oscar 2020 pela excelente, angustiante e intensa atuação de Phoenix, o longa se vê envolvido em uma grande polêmica acerca da dura realidade dos massacres com armas de fogo nos Estados Unidos. Desde sua pré-estreia, o filme tem sido criticado pela possibilidade de incitar atos de violência, pois alguns acreditam que a revolução encabeçada por Arthur Fleck em sua transformação no icônico vilão da DC seja um apoio a atos criminosos que acontecem na realidade.
O filme aborda discussões importantes a nível psicológico, existencial, político e moral. É sombrio, porém realista. A insanidade de Arthur é abordada de forma minuciosa.
O personagem, que convive com uma doença mental, trabalha como palhaço e tem o sonho de ser um grande comediante. No desenrolar do filme, ele perde o pouco que tem. Perde o emprego, perde o acompanhamento psiquiátrico por conta de redução de verbas municipais e com isso, perde também as prescrições para suas medicações, o que levanta um debate sobre a acessibilidade aos tratamentos psicossociais, que ainda é um privilégio.
A emblemática frase do filme "a pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você se comporte como se não tivesse" denuncia a falta de informação das pessoas, que ignoram as questões mentais e tratam os transtornos psiquiátricos como tabu, e, por conta disso, muitas vezes se tornam um gatilho.
O longa incomoda porque ele não tenta dar respostas fáceis à questão da violência. Apesar da sociedade ter falhado com o personagem, a responsabilidade não é jogada em cima dela. O Coringa não surge porque a sociedade o construiu. Arthur era um homem doente, com problemas internos, que abraça sua insanidade porque é abandonado, traído, violentado.
A luta de classes, que é constantemente abordada no filme, contribui para a deterioração do indivíduo. Ao assassinar três milionários no metrô, o palhaço ascende ao posto de vigilante. Gotham City, na ausência de referência, encontra na figura do Coringa um herói. O movimento “mate os ricos” retratado no filme, torna-se uma revolta popular contra a burguesia, denunciando a precária condição social em que os cidadãos vivem.
Lotado de referências, discussões e polêmicas, é inegável que o roteiro traz à luz alguns aspectos da realidade que podem passar despercebidos, mas que são questões importantes para explicar a decadência de uma sociedade marcada por abismos sociais, econômicos e psicológicos.
O Coringa de Joaquin Phoenix, segundo os críticos, muda, para sempre, um dos vilões mais complexos da história do cinema.
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